No dia 17 de janeiro de 2012, foi publicado no Diário Oficial que a
reintegração de posse da Moradia Retomada – USP, espaço de moradia estudantil
gerido pelos estudantes há um ano e dez meses na cidade universitária, deveria
ser executado no prazo máximo de 20 dias.
Para atestar as condições em que os estudantes mantêm o espaço, os
moradores convidaram professores e funcionários para formarem uma comissão e
visitarem o local, antes que a tropa de choque e a polícia pudessem vir a
causar danos.
Os professores Luiz Martins (Escola de Comunicações e Artes), Jorge
Luiz Souto Maior (Faculdade de Direito), Reinaldo Pacheco (Escola Politécnica)
e os funcionários, e diretores do Sindicato dos Trabalhadores da USP, Magno de
Carvalho (Escola de Comunicações e Artes) e Aníbal Ribeiro Cavali (Faculdade de
Direito) visitaram a Moradia Retomada no dia 30 de janeiro de 2012.
A Comissão elaborou o relato abaixo reproduzido:
Visitamos
o espaço da Moradia Retomada, no dia 30 de janeiro de 2012, e verificamos que
os estudantes têm plenas condições, por intermédio de sua auto-organização, de
gerir a moradia. O espaço se encontra inteiramente limpo, organizado, com as
paredes recém-pintadas pelos estudantes. Atestamos a integridade do espaço
físico, mantido com responsabilidade de quem cuida e zela pelo local onde mora.
Constatamos,
também, que há uma grande sala com computadores, que é mantida limpa e trancada
pelos moradores. Fomos informados que antes da retomada esta sala era gerida
pelo Banco Santander e que os computadores não eram patrimônio USP. Os alunos
disseram que não obtiveram nenhum esclarecimento por parte da reitoria da
Universidade acerca dos termos do acordo que permitiram ao Banco Santander se
apropriar de um espaço de moradia estudantil. Permanecem, no local, os
computadores, mantidos com cuidado e segurança.
Além
de declararmos a integridade física do espaço mantida pela organização dos
moradores, constatamos que o prédio ocupado, todo ele, é destinado a moradia de
estudantes e está sendo utilizado para essa finalidade, o que torna sem sentido
a iniciativa da Reitoria de pretender a retomada de parte do prédio para
utilizá-lo para finalidade diversa.
Saiba mais sobre a Moradia
Retomada:
Essa moradia, que é um dos alvos da Reitoria da USP, tem um
importante histórico de luta que há décadas a burocracia da universidade tenta
apagar. Na década de 60 o espaço foi sede da AURK – Associação Universitária
Rafael Kauan –, que cumpria o papel de organizar os estudantes na luta contra a
repressão e os ataques a liberdades democráticas, também abrigando o DCE da USP
e a UEE-SP quando essas
entidades foram colocadas na clandestinidade pela ditadura militar.
Após os dez anos de fechamento do CRUSP – Conjunto Residencial da USP
– pela ditadura, a moradia estudantil foi reaberta e o espaço do bloco G do
CRUSP que antes eram apartamentos da moradia e abrigavam as entidades
estudantis de luta foram transformados em escritórios e tomados pela burocracia
da universidade.
No ano de 2010 o espaço de moradia estava sendo utilizado pela
COSEAS- Coordenadoria de assistência social da USP e pelo Banco Santander.
Diante da falta de vagas no CRUSP e necessidade de políticas efetivas de
permanência estudantil, os estudantes moradores do conjunto, reunidos em
assembléia, decidiram no dia 17 de março de 2010 retomar o espaço como moradia
estudantil.
Há um ano e dez meses, os estudantes seguem gerindo o espaço e sendo
uma importante alternativa de moradia aos muitos que são excluídos pelo processo
de seleção realizado pela COSEAS. Diferentemente de tal coordenadoria, a
Moradia Retomada organiza um processo de recepção com critérios socioeconômicos
que não visa ser um funil e eliminar estudantes oriundos de camadas populares
como faz a burocracia da universidade, mas sim defender que todos os estudantes
que precisem tenham o direito a permanência estudantil garantido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário