quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Relato sobre a prisão dos 4 calouros da USP

1. por volta das 19h, quando eu cheguei, havia um esquema de guerra montado no portão principal para vistoriar os carros suspeitos de trazer cerveja para dentro da USP. Vi a guarda com lanterna olhando os carros que passavam;

2. Andei pelo campus com dois amigos, para colar cartazes para o lançamento do Manifesto pela democratização da USP (sádica coincidência) e foi muito difícil colar cartazes. Havia muita polícia por toda a USP e muita guarda universitária, principalmente no CRUSP. Lá não conseguimos colar nenhum cartaz porque os guardas estavam nos seguindo.

3. O clima estava horrível quando, indo embora, vimos uma cena que a princípio me parecia três estudantes algemados. Na verdade eram 4. Seguimos para a 14a. DP - Pinheiros, onde eles foram encaminhados e descobrimos que se tratava de 4 calouros: 1 da Física, 1 da Ciências Sociais, 2 da FAU. O clima era PÉSSIMO. O pai de um deles apoiava a PM e quando sentiu que estávamos questionando a ação da PM, logo se "revoltou contra nós". Questionamos o delegado sobre a forma como eles foram abordados: segundo eles mesmos, eles estavam saindo do estacionamento de carro e na altura da casa de cultura japonesa foram abordados por uma viatura e três motos da ROCAM que os fizeram parar e descer do carro. No veículo foi encontrado o que os guardas consideram "vestígio de droga". Parece que a quantidade era tão pequena que eles mal podiam ser considerados usuários. O próprio delegado disse que o procedimento de abordagem era complicado, mas que só os alunos envolvidos poderiam dar queixa contra a PM (lembrando que o delegado é da polícia civil e os alunos foram presos pela polícia militar). Enquanto conversávamos, o soldado que os abordou (que era da PM) pediu a carteirinha USP dos 4. Sugerimos que eles não dessem e o advogado que estava conosco (aluno da USP tb) questionou o procedimento. Em vão porque o pai de um deles e o advogado constituído os orientou a "colaborar" e quase pediu que nos retirássemos. Foi uma situação tensa e desconfortável. Em tese, apenas o dono do veículo deveria assinar o termo circunstanciado como usuário, mas pelo que entendemos, todos os que estavam no carro seriam enquadrados tb. Tentamos questionar isso tb, mas de novo, em vão porque a situação na delegacia era tensa.

Não sei o nome dos alunos e mesmo que soubesse não divulgaria. Eles estavam muito abatidos, com medo das consequências disso na própria USP. Nós os acalmamos dizendo que não teria qualquer consequência, mas no fundo estava inquieta com o fato deles terem sido fichados tb pelo número USP.

Para além de toda a situação política absurda: a PM abordando estudantes de forma absolutamente gratuita e os levando para a delegacia por "indício" de droga, nos deparamos também com a dimensão humana dessa situação: os alunos que esperam entrar na Universidade como um espaço de liberdade, se deparam com a face perversa da repressão e com as consequências pessoais disso: o medo, a humilhação, a afirmação da dependência familiar, a intimidação e o preconceito. Acreditamos que eles foram parados porque eram quatro homens dentro do carro e um deles usava rastafari.

Essa é a USP! Amanhã, certamente teremos problemas na festa da calourada unificada. A universidade está cheia de polícia, o Rodas quer briga e os estudantes estão completamente oprimidos e revoltados. Vai ser uma situação complexa!
 

Um comentário:

  1. Esse é um ponto de vista, é valido mas é apenas um... e cuidado ao generalizar dizendo que os todos alunos são reprimidos e revoltados, estudo lá a 4 anos e nunca me me senti dessa forma.. então devagar com a carruagem, que barulho não ganha causa e sim bons argumentos e organização!

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