domingo, 26 de fevereiro de 2012

Relato de como a Moradia Retomada foi desocupada



Uma operação de guerra
O REItor Rodas enviou novamente à USP os seus apoiadores mais dedicados, a Tropa de Choque da PM. Eles invadiram o CRUSP, assím como na desocupação da reitoria, só que dessa vez para prender os estudantes que residiam na Moradia Retomada. O reitor esperou de forma covarde o momento em que o CRUSP estivesse vazio e num Domingo de Carnaval, às 5 horas da madrugada, mais de 200 policiais fortemente armados, com vários carros blindados, dezenas de viaturas e um helicóptero cercaram o CRUSP. Até um batalhão de cavalaria ficou estacionado no P1 aguardando ordens para agir. Um enxame de policiais se aproximou do Bloco G e arrombou a porta da Moradia Retomada, sem darem a possibilidade de que os moradores saíssem, um procedimento que seria padrão em operações de reintegração de posse. Não! A ordem era prender todos, identificá-los e ficha-los para que possam sofrer processos criminais e administrativos. Os policiais nos enfileiraram na sala e nos obrigaram a entregar o RG e a carteirinha da USP, numa clara tentativa de achar não-estudantes e classificar nosso movimento para a imprensa, como algo estranho a Universidade. O que não conseguiram, já que dos 12 estudantes detidos, apenas 3 não eram estudantes da USP, sendo duas delas visitantes e outra, namorada de um morador. Nada do que não se veja em qualquer moradia estudantil. 


Os moradores do CRUSP são vistos como inimigos
No Bloco G, vários andares vizinhos da Moradia foram revistado por policiais, que obrigaram os moradores a saírem de seus quartos, alguns até com roupas íntimas, para que seus quartos pudessem ser revistados na busca por algum estudante subversivo ou máquina filmadora que contenham imagens da ação policial. As portarias de alguns blocos foram bloqueadas pela polícia para impedir que os moradores descessem. No Bloco F, vários moradores tentaram protestar contra o fato de que o CRUSP mais uma vez foi transformado em um presídio a céu aberto e arremessaram lixos pelas janelas. A Tropa de Choque respondeu atirando balas de borracha e janelas de uma cozinha foram estilhaçadas.
Um fato marcante na operação foi a presença do Superitendente da Coseas Waldir Antônio Jorge, o braço direito do líder supremo e que toma conta do nosso campo de concentração chamado CRUSP. Outra que marcou presença na operação foi a “assistente social” Marília Zallaf. Esses puxa-saco do Rodas só não apanharam dos moradores porque se esconderam atrás do cordão de isolamento da polícia.


A mentira do comandante da PM
Durante a detenção na Moradia, o comandante da polícia mentiu ao nos dizer que seriamos liberados assim que nos identificássemos. Entretanto, pegaram os documentos de todos e anunciaram que seriamos levados em um ônibus para a delegacia. Ao serem questionados, os policiais se negaram a ler a ordem judicial e arrastaram alguns moradores até o ônibus de forma truculenta, inclusive uma garota grávida de 6 meses, enquanto a arrastavam tapavam sua barriga com lençol na tentativa de esconder tal trubalidade. Até o cão Bôbo, que é o mascote da Moradia, foi preso. Veja novo video no youtube bit.ly/yWt3qE, que monstra a arbitrariedade das prisões.
Dentro do ônibus, os policiais fecharam todas as janelas e cortinas para impedir que os cruspianos vissem-nos presos. Uma estudante abriu as cortinas e foi agredida por policiais que apertaram sua nuca e seus braços. Vários estudantes se colocaram na frente do ônibus para impedi-lo de passar e só foram removidos com a ação da tropa de choque.


Na delegacia
Ao chegarmos à delegacia, uma estudante perguntou ao delegado para aonde estávamos sendo levados. O delegado falou que nós iríamos conhecer “Auschwitz”. Ficamos num primeiro momento detidos no pátio de Inverno da delegacia e fomos sendo chamados um a um para prestar depoimento. E ao se negarmos falar sem a presença de um advogado, o que é um direito constitucional, tentaram nos intimidar de várias formas. Uma estudante negra do curso de letras foi chamada de moradora de rua e analfabeta, dando a entender que seria estranho uma negra ser estudante da USP. Outra estudante do curso de filosofia foi chamada de vaca suja. Um estudante colombiano da pós-graduação foi chamado de filho-da-puta e foi dito que aqui não era o seu país, enquanto era chacoalhado pelo delegado, assim como foi feito com um estudante chileno de arquitetura. Essa é a internacionalização que a USP pretende fazer... a internacionalização da repressão?


Dentro das celas
Depois disso, o delegado nos mandou para as celas da delegacia. Fomos separados por sexo e a menor de idade também ficou presa numa terceira cela, configurando-se assim, mais uma aberração jurídica! A cela tinha cerca de 1,5m por 2m e estavam em condições degradantes. O chão estava sujo de urina, a latrina transbordava fezes, as paredes estavam sujas de sangue e um cheiro forte de creolina subia do chão. Somando-se isso ao calor insuportável do ambiente, era quase impossível se respirar! Muitos não conseguiram nem se sentar e passaram mal! Fomos tratados que nem lixo e guardaremos isso pelo resto de nossas vidas. Ficamos lá por cerca de 10 horas, o que para nós durou uma eternidade... Em meio a essa situação, estava a estudante grávida que passou mal e chegou inclusive a desmaiar e só foi tirada da prisão e levada para um hospital, depois de gritos de socorro.
Estudantes e trabalhadores solidários a nossa situação se aglomeraram do lado de fora da delegacia e compraram comida, já que não comiamos nada desde o dia anterior e tiveram muita dificuldade para que o delegado deixasse nos entregar. Nossa advogada chegou a tarde e teve grandes dificuldades para conseguir falar conosco, pois, os policiais não queriam nem mesmo abrir as portas da celas, o que só foi conseguido depois de um escarcéu que a mesma fez na delegacia. 


As agressões até o IML e mais constrangimento
De tarde, começaram a chegar alguns veículos de imprensa na delegacia e o delegado, que já tinha até falado em nos deixar presos durante o carnaval, com receio da má repercussão do caso, resolveu agilizar a nossa situação e nos imputou uma fiança de um terço de um salário mínimo, por pessoa (cerca de R$2.400,00 no total) e nos encaminhou para o IML, para fazermos o exame de corpo de delito. Fomos transportados nos bagageiros dos camburões da polícia e no caminho, começaram um tipo de tortura utilizado pela PM, que é fazer zigue-zagues com o veículo para que batêssemos a cabeça e ralássemos nossas costas nos escudos da tropa de choque, pois não tínhamos aonde nos segurar. Também faziam comentários do tipo “se pudesse, botava todo mundo em fila e metia fogo”.
No IML, as mulheres foram submetidas a outra situação humilhante. Só havia um médico legista homem, que as obrigou a tirar toda a roupa, inclusive a calcinha, sob a ameaça de que voltariam todas para a cadeia caso se recusassem. Um procedimento desnecessário, uma vez que as mesmas haviam dito que não haviam machucados nessas partes, assím como ocorreu na prisão da ocupação da reitoria quando as presas foram examinadas por uma médica e não precisaram tirar toda a roupa. 
Depois disso, voltamos para as celas imundas e fomos soltos só no final da tarde, após nos ficharem e assinarmos o alvará de soltura. A fiança foi paga pela Amorcrusp, por Centros Acadêmicos e sindicatos que se solidarizaram com a nossa situação.


O depois
Após esse dia de terror, nos deparamos com a situação de não termos mais uma moradia e tivemos que contar com a solidariedade de moradores do CRUSP que estão nos abrigando como hóspedes. Nossos bens estão até hoje presos dentro da Moradia e muitos estudantes estão apenas com a roupa do corpo. Conhecendo as medidas de perseguição e repressão existe a possibilidade iminente do processo criminal ser levado adiante assim como sermos expulsos da universidade. Os estudantes estrangeiros correm o sério risco de serem deportados para seus países. O próprio Waldir, em uma reunião com a Amorcrusp nessa sexta-feira, disse que todos sofrerão processos administrativos e provavelmente serão expulsos da Universidade. Este é o tratamento dado por este orgão que ao contrário de expulsar deveria estar cuidadando do alojamento destes estudantes, que justamente somente viviam la por não terem recebido sua vaga, e que agora estão na rua.
É esse o tipo de tratamento que uma Universidade pública que se diz democrática deve dar a estudantes que não têm um lugar para morar enquanto fazem o seu curso? Quem serão as próximas vítimas?


- Chega de repressão e perseguição política!
- Greve Geral na USP!
- Fora PM! Fora Waldir! Fora Rodas!
- Abaixo os processos, as prisões e expulsões na Universidade!
- Pela devolução da Moradia Retomada e dos Blocos K e L para os estudantes!
Movimento de luta por permanência estudantil – Moradia Retomada

Nenhum comentário:

Postar um comentário