É um pensamento comum na USP que os estudantes estão exagerando, passando dos limites. Em alguns momentos estão mesmo, admito. Mas quando é que não foi assim? Desde que me entendo por gente da USP – aportei aqui em 1979 – existem militantes radicais, organizações sectárias, chatos de assembléia e ações polêmicas como as ocupações de prédios. E sempre existiram os tais "soldadinhos de partido", embora na minha época não se usasse essa expressão, que eu saiba.
O bloco F do CRUSP foi ocupado quando eu era estudante. Conheço gente, hoje muito elegante, que ocupoou o Bloco F e morou lá, nas condições mais pitorescas. Participei de atividades na Reitoria ocupada por uma legião de estudantes no meu último ano de ECA, 1982.
A diferença não é que os estudantes de hoje sejam mais radicais do que nós fomos. O problema é que hoje rebeldia virou defeito, falha de caráter e problema emocional. Quase vez menos gente vê a rebeldia como algo natural entre os jovens com senso crítico. Menos gente ainda considera a rebeldia algo necessário para o mundo, porque não chegou a viver situações em que se rebelar era a única coisa a fazer ou, se viveu, hoje acha melhor esquecer. Muita gente se acomodou, se acovardou e resolveu criar filhos mimados e fracos, com um respeito doentio à qualquer autoridade, mesmo que ilegítima.
Além das mudanças no mundo e no país, outro fator ajuda a explicar essa alergia às estrepolias estudantis: a participação nos movimentos de estudantes e funcionários na USP é bem menos do que já foi. No tempo em que muita gente participava, as pessoas estavam mais habituadas a acompanhar, manifestações políticas dos mais diferentes tipos. Sabiam como era um piquete ou uma ocupação de prédio, entendiam porque certas coisas aconteciam, estavam aqui para impedir que os mais afoitos fizessem maluquices. Mais gente testemunhava as ações polêmicas no momento em que ocorriam, o que é muito diferente de acompanhar reportagens da Globo e versões alucinadas dos fatos publicadas na Veja, sempre induzindo os desinformados a verem militantes como criminosos.
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