sábado, 17 de dezembro de 2011

Carta do comando de greve dos estudantes da FAU aos membros da congregação:

No dia 08.11.11 vimos uma ação desproporcional da polícia militar e do governo do estado dentro da universidade de são paulo. Vimos 400 soldados da tropa de choque, GATE, GOE, cavalaria dentro do campus para reprimir uma manifestação política que se colocava contra as arbitrariedades da reitoria na gestão da USP. Tal ação deixa claro que o papel da polícia militar dentro da universidade não é garantir a nossa segurança.

Nesse mesmo dia, professores dessa unidade se posicionaram confirmando que nem na ditadira militar viram tamanha truculência dentro do campus, salientando a importância dos estudantes darem uma resposta.

No mesmo dia, uma assembleia histórica dos estudantes da usp deliberou pela greve imediata, tendo respaldo em diversos cursos da usp, dentre eles, a fau.

A greve dentro desta unidade, foi um instrumento tanto político de pressão a reitoria, quanto uma momento em que se fazia necessaria a reflexão e articulação das mobilizações que deixaram claro a necessidade de um novo projeto de universidade. 

Os professores se posicionaram em manifesto contra o autoritarismo na usp e ao mesmo tempo seguiram agindo normalmente exigindo entregas e mantendo datas de provas. Frente a essa posição contraditória, visto que mantem a normalidade mesmo frente a absurda ação da pm e sua permanência no campus, os estudantes viram a necessidade de lutar por seu direito de manifestação apresentando carta à CG para evitar a coerção ao instrumento de greve.

Frente ao papel da CG enquanto orgao onde sao deliberadas as questões quanto ao ensino na FAU, foi aprovado o adiamento do calendario jupiter tendo em vista que os 200 dias letivos não foram cumpridos, vimos esta decisao como forma de garantir que os professores pudessem dar o apoio necessario as movimentacoes estudantis. 

A posição dos professores foi de manter o posicionamento anterior a essa reunião da CG que penaliza os estudantes participantes dessa manifestacao que tem por eixo criticas a pontos fundamentais da estrutura autoritária da USP que sao as ações do atual reitor e o aparato repressivo, coercivo e de controle que e a Policia.

Questionamos, portanto, o carater pedagogico da decisão dos professores de não realizar as reposicões e cumprir os 200 dias letivos, e entregar as notas ao jupiter, ignorando assim a deliberacao da CG, e exercendo consequentemente uma coerção ao instrumento de greve. 
Questionamos, portanto, o conteudo dado nas salas de aulas, que são considerados o suficiente mesmo sem terem sidos cumpridos. 

Questionamos ainda como pode ser considerado que as aulas foram dadas sendo que a posição geral dos estudantes foi a de que estavam em greve. Qual é o posicionamento que reflete a atuação dos docentes frente aos acontecimentos e estruturas da universidade? 
Como pode os professores da considerada melhor universidade do país manter a normalidade continuando com suas pesquisas e aulas enquanto 73 estudantes são presos por manifestarem-se politicamente?

Qual é o projeto de ensino de professores que mesmo sabendo de sua capacidade de influência sobre os estudantes se abstem da capacidade de pensar um projeto de universidade real que possa superar as formas retrogradas e autoritarias da nossa academia? 

Caros membros da congregação, requeremos um posicionamento.
Assim como fez Niemeyer em 1969 que cancelou palestra a ser realizada na FAU em solidariedade a Artigas e Paulo mendes da rocha que acabavam de ser exilados.

Assim como fez Foucault no Brasil em 1975 que interrompeu sua palestra ao saber das prisões deflagradas pelos agente do regime militar em sp, declarando "não há pensamento livre sob a bota dos militares".

Estes são nossos verdadeiros mestres.

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