Os moradores do Conjunto
Residencial da USP (CRUSP), reunidos no dia 20 de dezembro de 2011, vêm a
público repudiar as calúnias feitas pela reitoria na edição 48 do Boletim USP
Destaques (Anexo 1):
http://www.usp.br/imprensa/wp-content/uploads/Destaque-48.pdf
Waldyr na ato da entrega (foto: Fabrício Lobel)
Questionado se o ato representa uma retomada ao diálogo por parte do movimento, Waldyr Jorge disse que o diálogo havia sido retomado previamente pela Coseas. Durante a entrega dos documentos,o novo coordenador afirmou desconhecer formalmente a pauta de reivindicações.
No dia 18 de marco de 2010, os
moradores do CRUSP, por decisão de Assembléia, ocuparam o térreo do bloco G do
CRUSP, parte da moradia estudantil então utilizada como sede administrativa da
Coordenadoria de Assistência Social – COSEAS. A ocupação tinha como reivindicações
principais o aumento do número de vagas na moradia e o desmantelamento do
sistema de espionagem existente no CRUSP, vide manifesto da ocupação (Anexo 2): http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2010/03/467913.shtml
e carta aberta (Anexo 3): http://coseas-ocupada.wikidot.com/informe:20100322-carta-aberta
Como a reitoria se negou ao diálogo, a Assembléia dos Moradores decidiu por retomar aquele
espaço do bloco G como moradia. No inicio de 2011, a Moradia Retomada novamente
recepcionou muitos calouros que ficaram sem vaga (anexo 4): http://coseas-ocupada.wikidot.com/informe:20110205-mr18 , o que levou a COSEAS
inclusive a reabrir o precário
alojamento do CEPEUSP, pela pressão que o processo paralelo de recepção gerou.
Desde o início, no entanto, a reitoria tratou o
movimento político legítimo como caso de polícia e, no final de 2010, chegaram
processos administrativos disciplinares baseados em regimento de 1972 que
culminaram agora com a eliminação de 8 estudantes da Universidade. A assessoria
de imprensa da USP apresenta suas justificativas infundadas na referida edição
do Boletim USP Destaques, onde veicula uma lista de supostos danos que teriam
sido causados pela ocupação do bloco G em 2010 como justificativa pela punição
de 8 estudantes.
No entanto, segundo os próprios relatórios da Guarda
Universitária e da Segurança da COSEAS, que baseiam a acusação, os estudantes
teriam praticado uma “invasão” e não há menção de extravio ou furto.
Questionada sobre tal fato, a reitoria esquiva-se de esclarecimentos dizendo
que o processo é sigiloso, segundo entrevista no Estadão (anexo 5):
Salientamos que as
informações sobre as perdas é mentirosa, tendo em vista que os documentos e
equipamentos da Divisão de Promoção Social foram devolvidos em ato público
ainda no ano de 2010. A COSEAS, desde o início da Ocupação, esteve ciente de
que poderia retirar qualquer documento ou equipamento solicitado, conforme comprova
o documento 1 em anexo, tanto que foram retiradas algumas pastas de documentos,
conforme comprovam os documentos 2 e 3 em anexo. Diante da proposital e irresponsável
indisposição da COSEAS em retirar os documentos, uma reunião de estudantes
decidiu realizar um ato de devolução, informando então a COSEAS, conforme
documento 4 em anexo e o ato foi realizado, conforme noticia o Jornal do Campus
(anexo 6):
Quanto às 12 toneladas de alimentos, citadas no Boletim
USP Destaques, gostaríamos de esclarecer que o térreo do bloco G, ocupado pelos
estudantes a partir de decisão de Assembléia de Moradores, não era depósito de
alimentos, portanto é descabida a acusação de que houve furto de 12 toneladas
de alimentos naquele espaço, até então utilizado como escritório administrativo
da COSEAS.
O Boletim USP Destaques
indica ainda ausência de provas cabais (conforme as palavras do reitor),
contra 5 alunos absolvidos, insinuando que existem provas legítimas contra os
punidos. A única “prova inicial” existente é o Boletim de Ocorrência, cuja
acusação é de: “alunos residentes da USP, não
identificados, com intuito de reivindicações de melhorias, segundo eles,
invadiram o prédio do Serviço Social”. Os únicos documentos que apontam nomes
são relatórios de funcionários do acusador (Reitoria): a guarda universitária e
a segurança da COSEAS, relatórios esses de caráter duvidoso, pois citam tanto
os absolvidos quanto os punidos. Se alguns estudantes foram absolvidos, todos
deveriam ser, o que não ocorreu por se tratar de perseguição política.
A Comissão
Processante, nos depoimentos, fez interrogações referentes à opinião individual
dos acusados acerca da ocupação no térreo do bloco G e da gestão da Associação
dos Moradores do CRUSP (AMORCUSP), o que denota um mapeamento dos
posicionamentos políticos. Conforme o relatório final do processo, foi
considerada conclusiva para a punição a informação de que alguns dos acusados
faziam parte da gestão em curso da Associação do Moradores do CRUSP, AMORCRUSP.
Além disso, vários dos indicados no processo, em diferentes momentos, foram Representantes
Discentes, fizeram parte, ou colaboraram com a Amorcrusp. Coincidência? Ou
seria esse um dos critérios adotados?
Lembramos ainda que a
sentença de eliminação definitiva, divulgada no dia 17 de dezembro, já estava
definida desde a portaria que indicou a instauração do processo. Portanto, o
trabalho da Comissão Processante foi apenas uma tentativa de dar ares de
legitimidade a uma decisão autoritária que já estava tomada desde setembro de
2010. Além disso, o processo estava finalizado desde maio de 2011, e desde
então, encontrava-se no Gabinete do Reitor, conforme documento 5. A divulgação
da decisão foi adiada para uma data oportuna a fim de dificultar a manifestação
das opiniões divergentes de estudantes, professores e trabalhadores: o recesso
escolar.
O Boletim USP
Destaques diz que “a decisão teve o respaldo de praticamente a totalidade dos
dirigentes das unidades de ensino e pesquisa e órgãos centrais da USP, expresso
em documento datado do dia 13 de dezembro”. Mas, segundo o professor Adrian
Fanjul, a decisão não foi submetida ao Conselho Universitário (CO), órgão de
decisão máxima da Universidade (anexo 7).
Coincidentemente, no dia 13 de dezembro houve uma
reunião do CO, onde foram feitos vários pronunciamentos contrários aos
processos, porém não houve nenhuma menção por parte da reitoria e de nenhum
dirigente sobre a decisão das eliminações ou sobre este suposto documento de
respaldo citado por Rodas. A Congregação da Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas - FFLCH posicionou-se contrária desde 2010, vide moção
publicada na entrevista de Fanjul.
O que Rodas qualifica
como alegações infundadas do movimento estudantil, como a afirmação de que as
punições pretendem preparar a transformação da USP em uma universidade privada,
que ele rebate cinicamente dizendo que se trata de “uma impossibilidade
jurídica”, é contraditório com sua resposta ao questionamento sobre a cobrança
de mensalidades, na entrevista à Revista Veja (anexo 8):
http://xa.yimg.com/kq/groups/28031839/1408263488/name/Veja+Entrevista+Jo%C3%A3o+Grandino+Rodas.pdf
“acho difícil que se mexa nisso agora.
De imediato, podemos obter mais dinheiro formando novas parcerias com a
iniciativa privada.” Rodas posiciona-se favorável à cobrança de mensalidades
desde antes de sua posse, já implantou na FEA um curso pago de graduação e
explicita, na entrevista citada, sua posição em combater aqueles que se
posicionam contrários a tais medidas. As recentes punições fazem parte deste
“combate às bandeiras ideológicas” declarado por Rodas.
Outra incoerência do Boletim da reitoria está
na tentativa de resposta à afirmação do movimento: “Que as punições visam à
perseguição política”, Rodas afirma: “no processo encontram-se comprovados os
ilícitos graves cometidos pelos punidos, que não se limitaram a protestos nem
somente a ocupar o espaço público”. Ao apontar que seriam necessários mais agravantes
do que “somente protestar e ocupar” para justificar a aplicação da punição de
eliminação, Rodas acaba por admitir que a condenação por uma ocupação caracterizaria uma perseguição
política. O objetivo do trecho é caluniar os acusados e fica explícito que
Rodas o faz por saber que a eliminação de estudantes acusados de ocupar um
espaço público não encontra respaldo nenhum dentro da Universidade. Rodas
argumenta que há outras acusações contra os punidos, mas já explicamos que a
dita comprovação apresentada refere-se a relatórios feitos por funcionários de
que os estudantes foram vistos nas imediações do bloco G na ocasião da
ocupação. Até mesmo uma repórter, que estava no local a trabalho cobrindo o
ocorrido, foi citada no processo, o que explicita a arbitrariedade da indicação
dos 17 nomes em um relatório e de 21 em outro. Se estas provas fossem realmente
“cabais”, teríamos mais eliminados, pois não há nada que diferencie os punidos
a não ser o posicionamento político. É este o único “ilícito grave” apontado
pelo processo. É impossível que o Reitor, depois de finalizado o processo,
venha apresentar novas provas que justifiquem a sentença, pois se houvesse
alguma não apresentada aos acusados, estaria-se incorrendo no prejuízo do
direito a ampla defesa. Ele só o faz no USP Destaques porque sabe que a punição
foi injustificável e que seu real motivo é a perseguição política.
Por todos os motivos
acima explicitados, reiteramos nosso repúdio ao Reitor da Usp que com as
eliminações atacou a “Comunidade Universitária” como um todo, tomando uma
decisão autoritária, decidida por poucos e que não representa a opinião da
maioria dos estudantes, funcionários e professores. Não
reconhecemos as eliminações!
Documento 1
Documento 2
Documento 3
Documento 4
Destaques
Boletim editado pela
Assessoria de Imprensa
da Reitoria
no 48, 19 de Dez. 2011
Processo administrativo relativo à invasão do Bloco G da Coseas é
concluído
Foi concluído o processo administrativo
disciplinar contra estudantes que, em 18 de março de 2010, invadiram o espaço
do Serviço Social da Divisão de Promoção Social, no Bloco G, da Coordenadoria
de Assistência Social (Coseas). A decisão tomada pela Universidade sobre a adoção
das penalidades sugeridas no referido processo foi publicada no Diário Oficial
do Estado, no dia 17 de dezembro.
Durante o processo, foram observados os princípios constitucionais
da ampla defesa e do contraditório, bem como os princípios da legalidade,
moralidade e impessoalidade. O reitor acolheu integramente o relatório da
Comissão Processante e as penalidades sugeridas. Para que houvesse
esclarecimentos dos fatos, a Comissão trabalhou com provas e os critérios utilizados
estão descritos nos autos do processo. O processo não apurou simplesmente a
ocupação, mas sim outras ações graves, como desaparecimento de prontuários
com informações sigilosas da saúde e da família de alunos da Universidade e de
crianças e adolescentes alunos da Escola de Aplicação, além de desaparecimento
e danos de patrimônio público (veja quadro nesta página).
A penalidade envolveu a aplicação da pena de eliminação de oito
discentes da Universidade, citados no processo, com fundamento no artigo 249,
IV, do Decreto nº 52.906 (em vigor por força do disposto no artigo 4º das
disposições transitórias do atual Regimento Geral da USP), e, como
consequência, a exclusão desses alunos do Conjunto Residencial da USP (Crusp).
A pena deixou de ser aplicada a dois alunos, tendo em vista que um
deles saiu da Universidade e outro concluiu o curso no qual estava
matriculado, devendo constar, entretanto, as anotações da penalidade em seus
prontuários.
Com relação a outros cinco alunos, constantes do processo, em razão
da ausência de provas cabais, que possam levar à conclusão de terem praticado
os atos lesivos que lhes foram imputados, determinou-se o arquivamento do
procedimento.
Tal decisão teve o respaldo de, praticamente, a totalidade dos
dirigentes das Unidades de Ensino e Pesquisa e Órgãos Centrais da USP, expresso
em documento datado do dia 13 de dezembro.
Danos causados pela ocupação do Bloco G da COSEAS em 2010
- extravio de cerca de 4 mil prontuários do arquivo ativo da Divisão
de Promoção Social, que inclui prontuários de apoio emergencial, bolsa de apoio
ao programa de permanência, seleção de moradia e seleção de creche;
- extravio de cerca de 300 documentos de trabalho, como fichas de
inscrições de filhos de funcionários, alunos e docentes das creches e de
processo de seleção de bolsas para crianças da Escola de Aplicação;
- extravio de 10 pastas de atendimento de programas de
acompanhamento, isto é, relatórios de atendimentos de alunos em situações
vulneráveis (programas de violência contra mulher, drogas e saúde mental);
- extravio de 17 computadores completos, 2 impressoras a laser e um
escâner;
- extravio de 9 aparelhos eletrodomésticos (cafeteira,
liquidificador, geladeira, fogão, forno microondas) e 2 televisores;
- extravio de 13 aparelhos telefônicos;
- extravio de 20 talões de tíquetes-refeição destinados a alunos
bolsistas;
- furto de aproximadamente 12 toneladas de alimentos (64 itens
alimentícios).
Responsabilidade do administrador público
Por força das normas de direito administrativo disciplinar, incumbe
ao dirigente universitário, sob pena de responsabilidade (crime de
condescendência criminosa, previsto no Código Penal, art. 320, e/ou improbidade
administrativa, prevista no art. 11, II, da Lei 8.429/1992), ao tomar
conhecimento de irregularidade ou suspeita de irregularidade, determinar a
instauração de Comissão, composta por três membros. Cabe a tal comissão
conduzir o processo de apuração dos fatos objeto de investigação para, ao
final, sugerir providências administrativas, dentre as quais, a aplicação de
medidas disciplinares.
Quando uma comissão sugere providências, após os trâmites previstos
na legislação, incumbe ao dirigente universitário, que instaurou os trabalhos,
acolher ou não, de forma fundamentada, as conclusões da referida comissão. Previamente,
a Procuradoria-Geral da Universidade procede à análise jurídico-formal do
procedimento, verificando a observância do devido processo legal e da ampla
defesa.
A Universidade reconhece, portanto, que penalidades eventualmente
sugeridas por referidas comissões relativamente aos atos praticados por
docentes, servidores técnico-administrativos e discentes deverão ser aplicadas
de acordo com a maior ou menor gravidade dos mesmos, em cada caso, e após sua
efetiva comprovação nos autos.
O poder disciplinar fundamenta-se na própria Constituição Federal
(art. 5º, LV), sendo detalhado em leis que regem a administração pública, seja
na esfera federal, seja na esfera estadual. Citem-se, como exemplos, a Lei
Federal 8.112/1990 (art. 143) e a Lei Estadual paulista 10.261/1968.
Dessa maneira, mesmo que, por hipótese, não houvesse, nas normas
internas da USP, qualquer referência ao poder disciplinar, o dirigente dessa
Universidade não teria como deixar de observá-lo, sob pena de responsabilidade.
Com relação às regras sobre penalidades, constantes das normas
internas da USP, em 1990, por solicitação do corpo discente, deixou-se de
revê-las, conforme atas das Comissões e do Conselho Universitário. Assim, as
normas disciplinares do Regimento Geral da USP, de 1972, em vigor por força do
art. 4º das disposições transitórias do Regimento Geral, atualmente vigente,
foram recepcionadas pela Constituição Federal de 1988.
Processo administrativo
Alegações infundadas:
• Que o procedimento administrativo-disciplinar da USP é injusto: o
processo administrativo disciplinar utilizado pela Universidade é idêntico ao
usado por todos os órgãos públicos paulistas e brasileiros. Isso pela simples
razão de serem baseados na Constituição de 1988 e nas leis administrativas
federais e estaduais;
• Que as punições visam à perseguição política: no processo
encontram-se comprovados os ilícitos graves cometidos pelos punidos, que não
se limitaram a protestos, nem somente a ocupar o espaço público;
• Que as punições pretendam preparar a transformação da USP em
universidade privada: tal transformação é uma impossibilidade jurídica;
• Que nem todos os invasores do Bloco G foram processados e
punidos: foram processadas administrativamente as pessoas contra as quais
havia início de prova. No âmbito jurídico, são punidas as pessoas contra as
quais existem provas, podendo ficar isentas de punição pessoas contra as quais
não foi possível comprovação efetiva.
Estudantes da
USP ocupam a Coordenadoria de Assistência Social - COSEAS
Por COSEAS OCUPADA 19/03/2010 às 23:28
Por COSEAS OCUPADA 19/03/2010 às 23:28
No dia 18/03/2010 foi ocupada a Coordenadoria de Assistência Social da
USP - COSEAS, dentro do Campus Butantã em São Paulo. Leia abaixo o comunicado e
a pauta de reivindicações do movimento.
Pauta de Reivindicações
- Diante
da falta de vagas na moradia que deixou neste ano de 2010 mais de cem
inscritos para alojamento emergencial sem um teto e sem condições
materiais para estudar;
- Diante
do atraso da reitoria na conclusão da obra do novo bloco da moradia que,
segundo acordo, deveria estar pronto no início de 2009;
- Diante
das expulsões arbitrárias (despejo) de estudantes moradores do CRUSP sem
aviso prévio, sem direito de defesa e durante a madrugada, chegando ao
ponto de barrar o acesso dos despejados a qualquer um dos blocos da
moradia;
Links: Blog da Coseas
Ocupada | Associação de
Moradores do CRUSP | Programa de Ação
Comunitária e segurança da COSEAS.
- Diante do fim do Programa Bolsa Trabalho, que deixou muitos estudantes de baixa renda sem condições de concluir seus cursos sem apoio financeiro;
- Diante das irregularidades constatadas no processo de "seleção sócio-econômica", realizadas pela Coordenadoria de Assistência Social da USP para a concessão de bolsas;
- Diante da tentativa de privatização do espaço da moradia cedido pela USP ao banco Santander sem consentimento dos estudantes e moradores do CRUSP;
- Diante das péssimas condições a que são submetidos os trabalhadores dos restaurantes universitários administrados pela Coordenadoria de Assistência Social da USP e, principalmente dos restaurantes terceirizados por meio deste orgão e da reitoria desta universidade;
- Considerando que a Coseas tem demonstrado por meio de suas políticas e provado, por meio de documentos (guardados a sete chaves), estar a serviço da vigilância e violência contra os moradores, por meio da elaboração de relatórios invasivos sobre a vida particular (práticas tipicas da ditadura militar);
- Considerando, ainda, que a função de promover políticas de permanência estudantil não tem sido cumprida pela COSEAS, ao contrário, este órgão, a serviço da reitoria da USP, tem trabalhado sempre no sentido de dificultar o acesso do estudante aos programas de permanência;
- Considerando que permanência estudantil é um direito!;
Nós, estudantes,
moradores do CRUSP e candidatos sem vaga na moradia, resolvemos ocupar o espaço
do térreo do bloco G, que originalmente era nosso mas estava sendo utilizado
pela Coordenadoria de Assistência Social. Retomamos o espaço, queremos:
- MAIS VAGAS NA MORADIA!
- TRANSPARÊNCIA NOS PROCESSOS SELETIVOS PARA OS PROGRAMAS DE PERMANÊNCIA!
- CONTRATAÇÃO DE MAIS FUNCIONÁRIOS E MELHORIA NAS CONDIÇÕES DESUMANAS DE TRABALHO E ATENDIMENTO NOS RESTAURANTES!
- FIM DAS EXPULSÕES ARBITRÁRIAS DE ESTUDANTES DA MORADIA!
- FIM DO SERVIÇO DE VIGILÂNCIA E DA PRÁTICA DE VIOLÊNCIA IRREGULAR DA COORDENADORIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL!
- AUTONOMIA DOS ESTUDANTES NO ESPAÇO DA MORADIA E NOS PROCESSOS SELETIVOS PARA OS PROGRAMAS DE PERMANÊNCIA!
- CONCLUSÃO DAS OBRAS DO NOVO BLOCO DA MORADIA!
COSEAS-OCUPADA
18 de Março de 2010
18 de Março de 2010
Anexo 3
Carta Aberta —
Perfil para dizer basta
Para um estudante
de baixa renda, a falta de um lugar para morar e de condições para se alimentar
podem significar a desistência de cursar o ensino superior. Os que, apesar
disso, ainda não desistiram, vêm passando por muitas dificuldades para cursar a
graduação na USP, por conta da restrição cada vez maior nas políticas de
permanência. Os moradores do CRUSP tentaram incessantemente solucionar estes
problemas por meio do diálogo com a direção da Coordenadoria de Assistência
Social da USP (COSEAS), que não demonstrou nenhuma disposição para resolvêlos.
Ao contrário: sua direção tentou intimidar os moradores presentes nas reuniões
de negociação, não cedeu sequer vagas emergenciais suficientes para os calouros
de 2010, deixando 100 pessoas de fora, e negligenciou todas as outras
reivindicações. Como se não bastasse, a diretora Rosa Godoy apresentou, diante
de uma câmera, relatórios produzidos por um serviço interno de espionagem que
viola a nossa privacidade. Esses relatórios são anexados aos documentos de
avaliação “socioeconômica” de moradores do CRUSP, submetendo a concessão e a
continuidade das bolsas a critérios obscuros, justificados por apontamentos de
“agentes de segurança”, pois o intuito não é realmente verificar a condição
sócioeconômica dos estudantes e sim administrar os recursos insuficientes que
a universidade destina à assistência estudantil, excluindo o maior número de pessoas
possível.
A vigilância de
nossas vidas privadas é um fato escandaloso e inadmissível. O aparato de
vigilância de Rosa Godoy tem outros objetivos que não a nossa segurança como,
por exemplo, reunir dados para a tese sobre “saúde coletiva” da Marília Zalaf.
Será um acaso que por vezes se condicione a permanência de um estudante na vaga
da moradia à submissão do mesmo a um tratamento psiquiátrico? (Disso há provas
documentais). No conto “O Alienista” de Machado de Assis, o “médico da alma”
Simão Bacamarte vai internando um a um todos os habitantes da cidade de Itaguaí
no hospício. Quando finalmente estão todos internados ele conclui, à luz da
ciência, que não é possível que sejam todos loucos. O louco devia ser ele
mesmo, que decide internarse a si próprio. Marília Zalaf é nossa Simão
Bacamarte. Outra função da vigilância é registrar tudo o que fazemos para o
caso de poderem usar isso contra nós. Se acolhemos um estudante excluído pelo
processo míope de seleção, sem “perfil” para morar e comer, fica registrado que
nós abrigamos “hóspedes irregulares”. Além de eufemismo para a exclusão, esse
selo burocrático pode designar qualquer visita (mesmo esporádica!) que
recebamos. Até mesmo filhos de moradores são “hóspede irregulares” nas fichas
das portarias, como o bebê de dois meses que recebeu uma ordem de despejo.
Também há relatórios dos vigias à COSEAS a respeito de pequenas
confraternizações, mesmo “sem reclamações”. E até quando discutimos
coletivamente nossos problemas, isso configura para a instituição um desvio de
conduta. Relatórios do serviço de mexericos e espionagem da COSEAS descrevem
detalhadamente nossas assembléias, com assuntos discutidos e identificação por
nome, apartamento e até apelido das pessoas presentes. Se uma assembléia é
assunto da segurança então a discussão política deve ser crime no entendimento
da direção desta Coordenadoria. Política só é crime em regimes de exceção.
Mesmo o regimento interno do CRUSP, que não teve participação de moradores em
sua elaboração, prevê nosso direito a discutir nossos problemas. Não estamos em
“1984” e o Big Brother é na Globo, não no CRUSP. Não aceitamos a bisbilhotice
de Rosa Godoy.
A quantidade exata
de vagas insuficientes é de difícil avaliação. Em primeiro lugar, não sabemos
ao certo quantos desistem do curso por terem sua vaga recusada. Em segundo
lugar, esse número ainda não responderia a questão satisfatoriamente. É sabido
que nem todos os que precisam de moradia sabem da existência das políticas de
permanência, pois esta coordenadoria se esforça muito pouco para divulgá-las.
Além disso, os dados de solicitação negada de bolsas geralmente são ocultos, e
a Comissão Jurídica da USP delibera a não divulgação das listas de
classificados e não-classificados a partir do ano de 2006, o que deixa o processo
seletivo ainda menos transparente. A demanda real é maior do que aquela que a
COSEAS é capaz de registrar. E isso não é por acaso: é resultado de um amplo
conjunto de estratagemas de sua direção para esquivar-se do verdadeiro
problema: falta de vagas. Pura e simplesmente falta de vagas, por conta de uma
política histórica da reitoria da USP de restrição, demolição de blocos da
moradia e transformação de outros em organismos burocráticos da universidade.
Assim, podemos afirmar que, todo ano, pelo menos 500 pessoas têm a bolsa
moradia negada. No ano de 2008, especificamente, sabemos que 800 pessoas
ficaram nesta condição. E a cada ano a demanda cresce.
Neste ano, a
diretora da Divisão de Promoção Social Marisa Luppi pretendia marcar o fim das
inscrições para o alojamento emergencial para o dia 22 de fevereiro (primeiro
dia de aulas). Desse modo, a maioria dos calouros perderia a data. Só os que,
num lance de sorte, soubessem a tempo poderiam se inscrever. A papelada do
processo seletivo daria a ilusão de que sobraram vagas. É com esse tipo de
ilusionismo que a Sra. Rosa Godoy tenta enganar a todos. É esse tipo de truque
que se tenta travestir de ciência, citando números que não correspondem a nada,
meros argumentos de autoridade. Eis aí um flagrante de um dos critérios que se
adota: a sorte. Por aí podemos medir a competência desta coordenadoria para
gerir o processo de seleção do CRUSP. Se o critério é a sorte não são
necessárias as enormes despesas com os salários da direção da COSEAS, basta que
a universidade adquira uma roleta ou que os estudantes tirem as vagas no
palitinho. Outro dado interessante: na seleção do alojamento emergencial deste
ano, descobrimos a seguinte pérola: um aluno com bolsa negada tinha a mesma
pontuação que um outro aluno, que ganhou a bolsa. O que tirou a bolsa de um
deles foi estudar no período matutino: claro, se você acorda cedo então tem
“perfil” pra passar a tarde inteira voltando pra casa. Já no processo seletivo
para uma vaga permanente existem três critérios pontuando o quesito distância:
gasto com transporte, tempo gasto pra chegar e a propria distância. Enquanto
critérios que são cruciais, como renda, são descaracterizados numa tabela de
cálculo totalmente furada. Exemplo: quanto mais pessoas desempregadas há na
família menos pontos ganha o estudante. Como se as camadas mais pobres da
sociedade não sofressem com o desemprego. É óbvia a mensagem velada de Rosa
Godoy nesse caso: um desempregado, potencial gerador de renda, deveria estar
trabalhando!
Mas o absurdo pode
ser ainda mais grotesco: em reunião com a AMORCRUSP (16/10/2009), Rosa Godoy
disse não haver expulsões noturnas e nem diurnas de moradores pois, segundo
nosso regimento, estas expulsões só poderiam existir depois dos processos
passarem por uma comissão mista, que não se reúne há mais de um ano. Depois, em
outra reunião(18/11/2009), para evitar a assinatura de uma declaração, disse
que não era bem assim, que verificou e descobriu que houve alguns casos. Nós
que convivemos nesta moradia sabemos das atrocidades que acontecem nas
madrugadas, escondidas na periferia da Cidade Universitária. Registremos um
exemplo estarrecedor: há quatro anos um morador foi surpreendido de madrugada
com a entrada brusca de agentes de seguraça da COSEAS em seu apartamento, que
vieram expulsar seu hóspede, sem portarem nenhum mandado legal para isso. Por
tentar chamar a atenção de outros moradores para o fato acionando um alarme de
incêndio, nosso colega foi detido e depois preso por alguns dias, episódio que
lhe acarretou todos os transtornos imagináveis.
É clara a
implementação de uma política de controle e repressão sobre os estudantes que
necessitam de políticas de permanência, e também e evidente a exploração dos
funcionários desta instituição. Aos estudantes pobres: criminalização e exclusão;
Aos trabalhadores: superexploração. Diante de todos os fatos expostos, percebese
que a classe trabalhadora só é desejada na USP para servir calada. Sob
condições precárias e salários aviltantes, os funcionários dos restaurantes
universitários há anos vêm reivindicando melhores condições. Muitos adquirem
lesões físicas (como tendinite, bursite) por conta do trabalho pesado e do
número reduzido de funcionários (até o ano passado a defasagem era de 52
funcionarios). E a reitoria da USP, junto com a direção da COSEAS, só tem
respondido com terceirizações, que precarizam ainda mais o trabalho e os afasta
de responsabilidades trabalhistas.
O corte das 600
antigas “bolsas-trabalho” (que já não eram satisfatórias, pois exigiam que os
alunos cumprissem tarefas que na verdade caberiam a novos funcionários), um
programa que garantia a possibilidade de renda para alguns estudantes, também
causou muitos transtornos nas nossas vidas. A reitoria da USP afirma que tais
bolsas foram substituídas. Mentira! O que temos hoje são algumas bolsas de
“pesquisa”, vinculadas a critérios meritocráticos e também obscuros, uma vez
que dependem da opinião pessoal de um professor. E que custam menos pra
reitoria pois as antigas bolsas eram vinculadas ao salário mínimo (hoje R$510,00)
enquanto as estáticas bolsas “ensinar com pesquisa” e “aprender com cultura e
extensão” são de R$300,00. A burocracia universitária realmente nos acha
incompetentes e o belo discurso retórico de Rosa Godoy acha que nos convence,
mas também sabemos fazer simples continhas de multiplicação pra saber que 600
bolsas de um salário mínimo custariam a universidade hoje R$336.000,00 emquanto
as 900 atuais custam R$270.000,00, uma redução de quase 20% em nossos direitos.
Queremos melhores condições para estudar, que é o que um estudante tem que
fazer e por isso exigimos a criação de bolsas de estudo (não vinculadas a
nenhuma atividade em substituição às antigas bolsas cortadas), com critérios
puramente sócioeconômicos.
Por vigiar nossas
vidas privadas, por camuflar e ignorar o problema das vagas insuficientes e
limitar-se a administrar essa precariedade, por usar critérios de seleção
absolutamente descabidos, pela desumanidade das expulsões arbitrárias, pelo
descaso com os funcionários e por seus argumentos ilógicos, que desdenham o
debate por se amparar na autoridade, não acreditamos na competência da direção
da COSEAS para gerir o CRUSP. O diálogo nos foi negado.
E por tudo isso,
exigimos:
- Mais
vagas na moradia.
- Que seja atendida de imediato a demanda por alojamento emergencial.
- Que os espaços da moradia sejam usados para moradia e não por sucursais da COSEAS (terreo do B, terreo do E e este espaço do G) que já tem sede própria.
- Desocupação dos nossos blocos K e L que foram invadidos pela reitoria.
- Conclusão das obras do novo bloco da moradia.
- Criação de um programa de ampliação das vagas anualmente.
- Desmantelamento completo do serviço ilegal de vigilância e fim das práticas violentas da COSEAS.
- Realocação profissional dos agentes de segurança da COSEAS.
- Fim da função de elaboração de relatórios por parte dos agentes da portaria do CRUSP.
- Fim da interferência das assistentes sociais na vida pessoal e política dos cruspianos.
- Fim das expulsões arbitrárias de estudantes da moradia.
- Que comissões de moradores analisem os casos de término de curso.
- Que a deliberação a respeito da saída de moradores seja de competência da Assembleia Geral de Moradores do CRUSP.
- Afastamento das coordenadoras da COSEAS de seus cargos: Marília Zalaf, Marisa Luppi e Rosa Godoy, responsáveis pelo “Programa de ação comunitária e Segurança.”
- Autonomia dos estudantes nos espaços cruspianos e sobre os processos seletivos para os programas de permanência.
- Que a COSEAS retome sua função de zeladoria.
- Contratação de mais funcionários para os restaurantes universitários e melhoria das condições desumanas de trabalho, de acordo com as reivindicações do SINTUSP.
- Substituição de fato das “bolsas-trabalho” por uma bolsa de estudos com critérios exclusivamente sócio-econômicos.
- Que não sejamos obrigados a uma jornada dupla (trabalho e estudo) para suprir nossas necessidades básicas.
São Paulo, 22
de março de 2010
A Ocupação
http://coseasocupada.wikidot.com
A Ocupação
http://coseasocupada.wikidot.com
Anexo 4
Passou no
vestibular, e agora? Como permanecer na universidade? Moradia e bolsas.
Após passar pelo
filtro excludente do vestibular, o estudante se depara com outra grande
barreira: como ter condições para comer, morar, tirar xerox, enfim, como ter
condições para poder estudar? Muitos acabam desistindo do curso por conta
destas dificuldades. Foi o caso do calouro de medicina oriundo de Goias que,
após ter sua solicitação de vaga no alojamento emergencial negada teve de
cancelar sua matricula e abandonar a universidade.
Permanência
estudantil é um direito de todo estudante garantido pela Constituição, art.
206: "O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
igualdade de condições para acesso e permanência (…)”. Mas a reitoria da USP,
por meio da COSEAS (Coordenadoria de Assistência Social), tenta imprimir aos
programas de permanência um caráter de favor, de premio por mérito, de
recompensa por boa conduta, e não um direito. A crueldade desta versão fica
explícita quando a COSEAS enxota mais de 800 estudantes que precisam de moradia
todo ano envolvida numa aparência de legitimidade e justeza. Como se trata de
um favor, qualquer justificativa serve para a não concessão: o estudante do
matutino e excluído porque “o do noturno precisa mais”, o morador de Guarulhos
e excluído porque “mora perto”, aquele que não tem renda é enxotado porque “não
se enquadra no perfil do processo seletivo”. Assim, após a longa batalha em
papelópolis para conseguir provar que não tem condições financeiras, após meses
de espera, a maioria dos estudantes obtém como resposta um categórico e duro:
não! Pautado em critérios escusos. O processo seletivo hoje realizado pela
COSEAS, desde 2007 sequer divulga a lista dos aprovados; o item que avalia
renda, por exemplo, subtrai pontos, ao invés de somar, quando o inscrito tem
muitas pessoas desempregadas na família. Quando o estudante consegue ingressar,
no entanto, a partir da premissa básica do favor, passa a sofrer forte pressão
por uma produtividade extrema, incompatível com a qualidade da formação e com
as condições humanas de seres que são obrigados a uma dupla jornada —
estudos/trabalho, para poder sobreviver. Alguns chegam a ter sua permanência na
vaga da moradia condicionada a tratamentos psiquiátricos específicos,
encaminhados pela COSEAS.1
O histórico de
violentas desocupações do CRUSP, e o termo de fundação2 da USP, demonstram o interesse da minoria de usurpadores que
administram esta universidade, que os filhos da classe trabalhadora não passem
pelo filtro social do vestibular ou concluam seus estudos. Uma universidade
pública, mantida com dinheiro público, que exclui de dentro de si a maioria da
população; a marca da USP: anti-preto, anti-pobre e antipática!
Os escassos
recursos destinados para a permanência estudantil são desviados para a
manutenção e o aperfeiçoamento de programas de vigilância da vida pessoal e
política dos estudantes que necessitam de moradia (vide denuncia na edição de
fevereiro da Revista Caros Amigos). Segundo o Programa de Ação Comunitária e
Segurança do CRUSP, os moradores do conjunto se resumem em “lideranças
politicas radicais de extrema esquerda que protestam o tempo todo, traficantes,
menores infratores” que devem ser vigiados. Somos criminosos! Maços de
relatórios são produzidos descrevendo detalhadamente as assembleias de
moradores, os assuntos discutidos, as pessoas presentes, descrevendo namoros e
festas. Se assembleia é assunto de segurança então política deve ser crime no
entendimento desta coordenadoria. Política só é crime em regimes de exceção!
O CRUSP nasceu a
fórceps. A luta pela construção de uma moradia estudantil é antiga. Remonta à
década de 40. Mas, somente na década de 60, quando o governador pretendia
abrigar ali os atletas dos Jogos Pan-americanos, é que se realizou a construção
dos 12 blocos do CRUSP. Mas mesmo assim, ao fim dos jogos, a reitoria negava-se
a liberar o espaço para moradia. Então os estudantes ocuparam, andar por andar,
bloco por bloco e, de 64 a 68, o CRUSP, gerido pelos próprios estudantes, foi
uma das experiencias mais ricas da cidade universitária. O CRUSP 68 foi uma
Universidade Livre na USP aprisionada. A recepção dos calouros era
realizada pelos Centros Acadêmicos, que repassavam a demanda ao DCE, e isso
constava inclusive no Estatuto da USP da época. Assim, os critérios eram
discutidos coletivamente e, caso não tivesse vagas disponíveis para todos, ao
invés de enxotar estudantes, buscava-se criar condições para que todos pudessem
morar, muitas vezes por meio de ocupações dos espaços.
Mas na madrugada
de 17/12/1968, quatro dias após o AI-5, decreto da Ditadura, redigido por Gama
e Silva, reitor da USP entre 1964 e 67, tanques do Exército cruzaram a ponte do
Rio Pinheiros, acordando e prendendo os quase mil moradores do CRUSP. Estava
castrada uma das experiências mais democráticas da vida universitária
brasileira. O Exército instaurou um IPM — Inquérito Policial Militar, que
resultou em processo e ordem de prisão para 32 residentes. Nos anos seguintes
dezessete de seus melhores filhos (Aurora Maria Nascimento Furtado, a Lola,
estudante da psicologia e militante da ALN, Lauriberto Reyes, estudante da
Poli, integrante da UNE em 1968 e militante da MOLIPO, Jeová Assis Gomes,
estudante da Física, Chico Dialético, estudante de Ciências Sociais, Rui Carlos
Vieira Berbert, estudante de letras; militantes do MOLIPO , entre outros) foram
mortos pela besta que se abateu sobre o nosso país em 64 e continua a
determinar a nossa existência até hoje. Manto de sangue, roupagem própria da
nossa “democracia” coroada a torniquete.3
A Reitoria da USP, que mantinha uma agência de informações — AESI4 — ligada ao Exercito, funcionando dentro da Cidade Universitária
para mapear estudantes, trabalhadores e docentes “comunistas”, foi
corresponsável pela prisão, tortura e morte destes e de outros estudantes,
professores e trabalhadores: Alexandre Vannucchi Leme, estudante da geologia e
militante da ALN, Iara Iavelberg, professora da psicologia e militante do MR-8,
Issaami Nakamura, assistente de laboratório do Departamento de Engenharia
Química e militante da ALN, Ana Rosa Kucinski, professora do departamento de
Química, Ísis Dias de Oliveira, estudante de Ciências Sociais e militante da
ALN . As listas de mortos são enormes, assim como são enormes as consequências
politicas e humanas desta imposição estatal da força. Dos que ficaram vivos,
muitos sucumbiram ao corte brusco que o fechamento do CRUSP representou em suas
vidas. “O CRUSP foi reaberto, mas nunca mais nos mesmos moldes, apesar de
vivermos 23 anos de Regime democrático” (Associação CRUSP-68 em 2007).
Fez-se necessário
retomar o fio rompido. Retomar o CRUSP como um dos espaços de formação mais
ricos que esta universidade já teve, e sua memória de resistência. Os prédios
do conjunto ficaram fechados longos períodos e, a partir de 1979, os estudantes
reiniciaram a retomada dos blocos com ocupações e, desde então, os estudantes
lutam pela retomada dos espaços. Mais recentemente, em 1996, ocupou-se a sede
da COSEAS (em frente ao bloco G) contra a imposição de um Regimento que
condicionava a permanência dos moradores nas vagas à obtenção de um mérito
acima da média; em 1997 moradores ocuparam o térreo do bloco C, transformando-o
em alojamento; em 2010 estudantes ocuparam o espaço do bloco G utilizado pela
COSEAS, retomando desde então sua função original de moradia (atual Moradia
Retomada).
Se o surgimento do
CRUSP remonta a história de resistência estudantil, a origem da COSEAS, por
outro lado, foi pautada na pretensão de controle e repressão da reitoria ligada
à Ditadura Militar: primeiro surgiu como ISSU (Instituto do Serviço Social da
USP), órgão de atuação coercitiva na moradia. Seus representantes intervinham
nas reuniões de moradores com a função de mapear o posicionamento político dos
mesmos. Sua direção impôs a proibição de beijos públicos e a separação por sexo
nos blocos. Sua presença era tão “benéfica” aos moradores, que em 67 sua sede
foi invadida e todos os documentos que haviam lá, queimados. Em 72, o ISSU
passou a se chamar COSEAS. O órgão funcionava dentro da reitoria e nem sequer
reconhecia o CRUSP como moradia estudantil legítima. Em 84, sua primeira ação
foi um “expurgo”, onde foram expulsos vários moradores considerados “punks” e
“irregulares”. Se durante a vigência da ditadura explícita, o adjetivo
“comunista” fora carregado de sentido deturpado para justificar a violência
institucional, em 84 a COSEAS repetiu o feito, mas mudando o nome. O problema
agora eram os “punks” e os “irregulares”. Seres humanos.
Hoje, para
administrar a miséria sem gerar revolta, a COSEAS cria programas como o
bolsa-auxílio moradia para eliminar a demanda daqueles estudantes que não
conseguem vaga no CRUSP, e são obrigados a aceitar a bolsa, devido suas
necessidades. Mas o programa não resolve o problema da falta de moradia. No
máximo, basta para suprir necessidades básicas do estudante, como tirar xerox,
comer. Isso acontece porque não existe uma bolsa de estudos pautada em
critérios socioeconômicos, o que é reivindicação dos estudantes há tempos.
Aqueles que precisam alugar uma residência, enfrentam as dificuldades de não
ter fiador e de ter que se virar com apenas R$300,00 mensais da bolsa
auxílio-moradia, que podem ser cortados a qualquer momento sem aviso prévio. O bolsa-auxílio
é política de panis et circenses,5
onde o circo é ver estudante apanhar, como ocorrido em 2009, com a invasão da
polícia militar (exército particular do governador) à USP.
Para os que
chegam, inicia a maratona de tentar inscrever-se na sede da COSEAS (térreo do
bloco E) para o alojamento emergencial e bolsa alimentação; inscrever-se no
site www.usp.br/coseas para a vaga permanente da moradia e esperar meses,
esbarrando na confusão de informações e em exigências descabidas. Mas não basta
aguardar sentados pela inclusão na moradia e nas demais bolsas através processo
seletivo da COSEAS. Seus critérios obscuros visam apenas eliminar números e
legitimar o NÃO! Por isso nós, estudantes moradores da Moradia Retomada
do CRUSP, estamos organizando um processo de recepção aos que precisam de vaga.
Inscreva-se na Moradia Retomada (térreo lateral do bloco G do CRUSP — em frente
ao guichê de tíquetes do bandejão) ou pelo sítio: http://moradiaretomada.wikidot.com. Ao contrário da política da COSEAS, nós pretendemos lutar juntos
para que todos que precisem possam morar. Nenhum estudante sem vaga!
Anexo 5
'Senso crítico não está de
férias', diz expulsa da USP
Manifestação em repúdio à expulsão de seis alunos da USP reuniu
cerca de 100 pessoas; grupo pede revogação da decisão
20 de dezembro de 2011 | 3h 04
Mesmo com o esvaziamento da Universidade de São Paulo (USP) por
conta do fim das aulas, a manifestação contra a expulsão de seis alunos reuniu
cerca de cem pessoas na tarde de ontem. O grupo se reuniu com faixas, carro de
som e tambores em frente ao prédio da reitoria e marchou até a portaria
principal da USP, onde bloquearam o trânsito por 15 minutos.
"As aulas da USP podem estar de férias, mas o senso crítico dos
alunos, não", disse Jéssica de Abreu Trinca, de 26 anos, uma das
estudantes expulsas, que acredita na continuação da mobilização no próximo ano.
"As aulas vão voltar e os alunos vão estar em greve", completou a
aluna de Letras.
Os manifestantes pedem a revogação das expulsões - decisão divulgada
no sábado em despacho do reitor João Grandino Rodas. A expulsão veio como
punição pela ocupação, iniciada em março de 2010, de um prédio da Coordenadoria
de Assistência Social (Coseas). Segundo a reitoria, documentos do departamento
foram extraviados e computadores, furtados.
A principal reivindicação do movimento, intitulado Moradia Retomada,
é o aumento de vagas no Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo
(Crusp). A sala continua ocupada.
Entre os manifestantes, a confiança era de que a medida pode ser
revogada. "O reitor, em uma decisão, acaba com a minha vida acadêmica e
profissional. Foi extremamente incoerente", completa Jéssica.
O Diretório Central dos Estudantes (DCE) vai apelar ao Judiciário.
"Vamos entrar com mandado de segurança para tentar reverter a decisão na
Justiça. Porque dentro da universidade é tudo muito restrito", diz João
Victor Pavesi, de 25 anos, do DCE.
A estudante de Artes Cênicas Aline Dias Camoles, de 27 anos, também
desligada da universidade, criticou o processo que resultou nas punições.
Segundo ela, há comprovação no processo de que os documentos do Coseas foram
devolvidos.
A lista dos demais prejuízos não constaria no inquérito, segundo
ela, que carregava uma cópia do processo. Segundo a reitoria, a relação de
prejuízos está no processo - mas ele é sigiloso.
Anexo 6
Devolução de arquivos por
ocupantes não garante diálogo com Coseas
por Victor Caputo e Fabrício Lobel
Membros do movimento,que tem ocupado a sede da Divisão de Promoção
Social da Coordenadoria de Assistência Social (Coseas), entregaram documentos
que continham informações confidenciais, pessoais e acadêmicas, de moradores do
Crusp. Os documentos, entregues em 28 de abril, 13 dias após sua posse, foram
recebidos pelo próprio coordenador da Coseas, professor Waldyr Antônio Jorge.
A entrega envolveu a devolução de documentos e computadores que, por
orientação da Consultoria Jurídica, foram armazenados em um caminhão baú e
lacrados pela Polícia Civil, para garantir a integridade dos mesmo. Uma
comissão foi formada por parte da Coseas para organizar os documentos, que teve
seus trabalhos interrompidos devido à greve.
Waldyr na ato da entrega (foto: Fabrício Lobel)
Questionado se o ato representa uma retomada ao diálogo por parte do movimento, Waldyr Jorge disse que o diálogo havia sido retomado previamente pela Coseas. Durante a entrega dos documentos,o novo coordenador afirmou desconhecer formalmente a pauta de reivindicações.
No entanto, foi apresentada uma cópia de um documento, protocolado
pela Coseas no dia 24 de março, no qual foi apresentada a pauta de
reivindicações à Coseas.
“Não basta protocolar um documento e esperar que a situação seja
resolvida pela Coseas”, afirma Waldyr Jorge que se diz impossibilitado de
continuar tentando entrar em contato com os ocupantes uma vez que os serviços
da Coseas se encontram paralisados pela greve. O coordenador ainda reforçou sua
disposição a realizar uma reunião com os membros do movimento de ocupação.
Jorge confirmou que o uso da força é descartado.
Tumulto na entrega
Em meio à devolução, um membro do movimento contrário à ocupação,
que tentava tirar fotos dos ocupantes, foi hostilizado. Ele afirmou que
integrantes do movimento já o haviam ameaçado antes.
Anexo 7
Professor Adrián Fanjul: Expulsão dos alunos da USP não foi
submetida ao Conselho Universitário
20 de dezembro de 2011 às 0:10 por Conceição Lemes
Sábado passado, 17 de dezembro, o Diário Oficial do Estado de São
Paulo publicou um despacho do reitor da USP, João Grandino Rodas,
expulsando seis estudantes moradores do CRUSP por conta da ocupação da sede da
COSEAS (Moradia Retomada). As expulsões estão baseadas no decreto de 1972, da
ditadura militar, ainda vigente no Regimento Geral da USP, que permite
perseguições e penalidades políticas.
Um dos pontos que fundamentaram a decisão do reitor, segundo o seu
próprio despacho, é o item 4:
Coincidentemente no dia 13 de dezembro, houve reunião do Conselho
Universitário da USP, onde estiveram presentes dirigentes das Unidades de
Ensino e Pesquisa e Órgãos Centrais da Universidade. Representando os
professores doutores, Adrián Pablo Fanjul, da Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas (FFLCH), participou.
“Ao longo da reunião, nada foi dito acerca das expulsões nem de um
documento que as respaldaria”, afirma o professor Adrián Fanjul.
– Nada, mesmo?!
“Realmente nada”, salienta Fanjul. “Nem por parte da reitoria nem de
nenhum outro dirigente.”
Aliás, durante a reunião do dia 13 do Conselho Universitário foram
feitos vários pronunciamentos contrários aos processos em andamento contra
estudantes e funcionários e/ou pela anulação do decreto de 1972, da época da
ditadura, que os embasam. E já houve anteriormente várias moções contra eles.
Uma delas, recente, de 2010, da Congregação da FFLCH, assinada pela sua
presidente, professora Sandra Nitrini.
– Então esse documento a que se refere o despacho do reitor seria
secreto?
“Secreto não é, porque o próprio reitor informa sua existência. Mas
ele não foi nem mencionado no Conselho Universitário que se reuniu nesse mesmo
dia 13, e ainda não foi divulgado”, observa Fanjul. “De fato, a reunião do
Conselho Universitário foi mero espaço de formalidade, onde o tema nem se
tratou, enquanto a verdadeira decisão era tomada em sigilo.”
– A decisão teria sido tomada sem a presença de todos então?
“A decisão não foi tomada pelo Conselho Universitário”, esclarece
Fanjul. “É o reitor quem assina o despacho.”
“Mas se o reitor conta com o respaldo da maioria dos diretores,
conta de fato com a maioria do Conselho. Se eles assinaram um documento de
apoio à medida tão grave no mesmo dia, por que no Conselho ninguém disse
nada?”, acrescenta Fanjul. ” Não submeter o assunto ao Conselho, ou sequer
mencioná-lo, explica-se para evitar que uma minoria indesejável – leia-se nós,
representantes, e alguns diretores – condenasse a medida. Garantiu-se, assim, a
‘surpresa’ do final de semana pré-natalino.”
Anexo 8
Entrevista JOÃO GRANDINO RODAS
MONICA WElNBERG
Zero para o corporativismo
o reitor da Universidade de São Paulo diz que só se afastando de
velhos dogmas e
preconceitos a instituição conseguirá ombrear com as melhores do
mundo
Entrevista JOÃO GRANDINO RODAS
MONICA WElNBERG
Zero para o corporativismo
o reitor da Universidade de São Paulo diz que só se afastando de velhos
dogmas e
preconceitos a instituição conseguirá ombrear com as melhores do mundo
Reitor da Universidade de São Paulo (USP). a maior instituição pública de ensino superior e de pesquisa no
país, o douror em direito João Grandino Rodas. 65 anos, é voz
dissonante no meio acadêmico.
Contrariando os mais corporativistas e avessos à merirocracia, no mês passado ele
anunciou um plano, já em curso, para incentivar as faculdades a
modernizar-se - com um prêmio para as mais eficazes. Resume o reitor:
"Se a USP permanecer como urna cidadela, sem conexão com governos e o mercado,
estará fadada à obsolescência". Com quatro graduações no
currículo - educação, letras, direito e música (até hoje é um
habilidoso pianista) - , Grandino ingressou na USP como estudante. há mais
de quarenta anos. No gabinete que ocupa desde janeiro, ele concedeu
a VEJA a seguinte entrevista.
A USP deixou de ser uma referência
no ensino superior? Apesar de muita gente na universidade agitar a bandeira de que
somos os melhores, com base unicamente na tradição, estou convicto de
que a USP tem muito que avançar para fazer frente às novas exigências
que se colocam no século XXI. Obviamente, não podemos mais oferecer
cursos nos mesmos moldes seguidos nos tempos do Império. É preciso
evoluir e, para tal, temos de estar mais abertos.
A universidade vive ainda distante de governos, do mercado e de outros centros de
excelência acadêmica, no Brasil e no mundo. Cerros núcleos
da USP não se integram sequer com outros dentro do mesmo
câmpus.
Eles se sentem autossuficientes, quando
sabemos que estão bem longe disso. Se realmente ambicionamos chegar
ao topo dos rankings mundiais do ensino, devemos quebrar, de uma vez
por todas, a inércia que nos
separa da eficiência.
wja 127 DE OUTUBRO, 2010 121
Entrevista JOÃO GRANDINO RODAS
o que um reitor pode eletivamente fazer para melhorar o desempenho das faculdades?
A reitoria não tem o
poder de fechar cursos nem de mudar cunículos. Isso é da responsabilidade de cada
faculdade. Mas posso
incentivá-las a buscar a eficácia.
Temos uma verba adicional destinada às faculdades que perseguirem, e alcançarem,
melhores indicadores.
Estou falando de uma aferição objetiva.
Ela vai levar em conta, por exemplo, a atualização do
currículo e da bibliografia de cada curso. Também
vamos avaliar se o que é prometido no papel pelas faculdades está sendo, de fato,
executado na sala de aula.
Acho que isso acabará provocando uma competição entre os diferentes núcleos da
USP. o que não só é
saudável como vital para a excelência.
Há muita resistência corporatiya?
Por enquanto, não de forma aberta. Mas sei da existência de certos grupos na
universidade que, tradicionalmente, não veem com bons olhos
nenhuma iniciativa baseada no mérito para avaliar a produtividade.
Eles apelidam pejorativamente a prática de produtivismo. Ignoram
que as melhores instituições de ensino superior do mundo se pautam,
sim, pela meritocracia. Não há outro caminho.
São os suspeitos de sempre, não?
Sim. Em primeiro lugar, estão os sindicalistas que atuam na USP, ainda hoje
norteados pelos velhos métodos do fim da década de 60.
Sistematicamente, eles desrespeitam o estado de direito. impondo-se pela força e
destruindo bens públicos.
Na última invasão da reitoria, liderada pelo sindicato dos funcionários, furtaram cinquenta
câmeras de vigilância. Quando essas pessoas são confrontadas com
processos administrativos e criminais. rebatem com um discurso do
tipo "estão criminalizando as entidades sociais".
Absurdo. Estamos falando de gente que, não raro, anda munida de picareta, com o
rosto coberto, e que já chegou a cortar os serviços básicos de
alimentação e creche na Cidade Universitária. O sindicara dos professores,
embora não se apresente formalmente nessas ocasiões. apoia isso. O
mesmo ocorre com grupos localizados de estudantes. Um deles responde
pelo sugestivo nome de Negação da Negação.
Como a aversão ao mérito atrapalha?
Não sou contra os movimentos sindicais, mas contra a irracionalidade. Olhe
como eles agem de forma contraproducente. O sindicara dos funcionários
impede até que a USP implante um plano de carreira para
eles próprios. Pedi que me propusessem um projeto, mas resistem
porque, de novo, isso acabaria envolvendo a premiação do mérito.
Preferem lutar pelos aumentos anuais, estendidos a rada a categoria.
Sabe o que acontece com os melhores? Eles simplesmente vão embora da
universidade. É o exemplo extremo de uma mentalidade estanque que se
vê em outros setores da USP. Certos acadêmicos relutam em ver implantado
um modelo mais moderno e aberto de universidade.
Por que alguns acadêmicos resistem ao novo e à premiação por mérito?
Eles temem perder o espaço que conquistaram no modelo vigente, de uma
universidade mais fechada. Para essas pessoas, a USP deve manter-se longe
dos governos e do mercado. Elas supervalorizam o saber teórico e
desdenham da prática. Uma mentalidade que tem suas raízes fincadas na
sociedade escravocrata
brasileira, em que o fazer prático era coisa de segunda categoria. reservado aos
escravos, e não aos nobres. Numa universidade moderna como a USP, é
inacreditável que tantos ainda nutram esse tipo de preconceito.
Isso desvirtua as próprias origens da instituição em que estão. Documentos de 1934, ano
em que a USP foi fundada, deixam claro que uma de suas missões é justamente tomar parte nas
políticas públicas. Só que nos perdemos numa dicotomia inútil.
Os que resistem não entendem que, com isso,
impedem o aumento da qualidade do ensino e da pesquisa? Não. Cabe
à universidade. além da pesquisa pura, produzir conhecimento
aplicado às necessidades da economia e da sociedade como um todo. Mas
olhe como é difícil. Para esse grupo de pessoas anacrônicas, qualquer
contara que fazemos com a iniciativa privada é visto como tentativa
de privatizar a USP. É como se a instituição fosse sacrossanta, e
isso a fizesse perder a pureza. Bobagem. Pois. se tomamos
a universidade mais produtiva, isso só nos confere mais valor. Do
contrário, se ficarmos vivendo apenas de nome e tradição, sem
avanços, entraremos na rota da obsolescência.
Nenhuma universidade brasileira aparece nas primeiras colocações dos
rankings internacionais - nem a USP. O que fazer para subir nas
listas?
Na busca da relevância acadêmica,
as instituições brasileiras precisam evoluir em um quesito que é
hoje central- sua internacionalização. Estamos tentando avançar. Isso
implica tornar permanente e institucionalizado o contato com outras
universidades do mundo. Hoje. esse elo se dá de maneira
improvisada. na base da amizade entre pesquisadores. Também será um
grande ganho para as instituições brasileiras conseguir atrair bons
estudantes de outros países. A experiência mostra que é algo bastante
producente do ponto de vista acadêmico. Hoje, mais do que nunca, a
universidade precisa sair de sua ilha de conforto e confrontar-se com
a produção de conhecimento que existe fora de seus muros.
Mas a troca de informações e a avaliação pelos pares não são os pilares da
ciência?
Qualquer pesquisador que insiste em fazer seu
trabalho de fona isolada corre o risco de achar que
está inventando a roda, quando alguém do outro lado do mundo já fez
isso e foi além. Ou seja. o novo trabalho começa velho. Acredito que
a inserção das universidades brasileiras no cenário acadêmico
internacional, que é o que se pretende, ajude a colocar
nossa produção sob outra perspectiva. Os pesquisadores brasileiros
poderão perceber que o que eles consideram útil e relevante talvez
não o seja.
Como as universidades brasileiras estão
aproveitando as oportunidades trazidas
pela era digital?
Precisamos acelerar o
passo. Estou convicto de que só sobreviverão aquelas instituições
que realmente conseguirem fazer a transição da antiga aula entre
quatro paredes, baseada na velha lousa e giz, para um modelo muito
mais dinâmico e afinado com tais avanços. Não estou falando aqui
somente de instalar uma
lousa eletrônica na sala de aula, mas de prover os alunos de grandes bibliotecas digitais
e dar-lhes oportunidade para aprender conectados em rede.
A tecnologia deve servir para que eles tenham acesso ao suprassumo da informação. Para
um aluno de direito, por exemplo, significa conseguir assistir, em
tempo real, a uma sessão plenária do Supremo Tribunal Federal.
Nossas universidades ainda são medievais perto das novas exigências. O ensino
superior no Brasil está hoje em nível semelhante ao dos Estados
Unidos um século atrás. Acredito que a tendência, como ocorreu lá. é
que se dê um processo de seleção natural no próprio mercado, que vai
banindo as instituições de mau ensino. Com a nota baixa em evidência,
elas deixam de atrair alunos.
A presença de grupos estrangeiros no país
também tende a ajudar nessa depuração, já que eleva o patamar
da concorrência. O MEC, por sua vez, deveria estar contribuindo
com uma postura mais firme, de maior controle. O posicionamento
oficial, no entanto, tem sido errático e pouco eficaz nesse
campo.
A USP vai aderir ao Enem?
A princípio, temos interesse em participar de
todos os programas nacionais, mas isso depende de sua confiabilidade
e também de certos ajustes - como é o caso específico do Enem. Não dá
para esperar que uma universidade com as proporções e o elevado nível
de procura por vagas da USP aplique um exame idêntico ao de uma
faculdade minúscula. O Enem precisaria atender melhor à nossa demanda
para que fosse implantado no lugar do vestibular. O problema é que,
quando o MEC nos procurou. já tinha um plano pronto. E esse não nos
serviu.
Existe uma eterna grita por mais dinheiro entre as universidades públicas. O
senhor a endossa? Não me parece lógico que o orçamento das
universidades públicas possa crescer consistentemente mais à base
de verbas oficiais. Digo isso porque esse dinheiro vem de impostos
pagos pela população, e a maior parte dela nem sequer frequenta tais
instituições. E há ainda outras áreas em que é premente investir,
como saúde, segurança e a própria educação básica. Se ela não
funcionar, a universidade, que acolhe mais tarde os alunos mal
preparados, continuará a ter suas limitações.
O senhor é a favor de cobrar mensalidades dos estudantes de renda mais alta - fórmula
adotada em outros países?
O Brasil é um dos únicos no mundo a garantir gratuidade a todos os alunos de
universidades mantidas com
o dinheiro do governo. Curiosamente. são aqueles que se dizem mais conhecedores do
sofrimento dos brasileiros menos favorecidos os primeiros a agitar a bandeira do ensino superior
gratuito para todos, inclusive para os que podem pagar. Acho, porém, difícil que se mexa nisso agora. De
imediato, podemos obter mais dinheiro firmando novas parcerias com a iniciativa privada.
Mas, sempre que acontece, volta à cena o velho
bordão de "estão querendo privatizar a nossa universidade".
É uma bandeira ideológica a ser combatida. O grupo que a agita
deveria se preocupar, isso sim, em assegurar a importância
da instituição a que pertence. Pode começar com a modernização de
suas aulas, que é o que vai
garantir, afinal, a atração dos alunos mais
brilhantes e a própria excelência da USP. Para dar esse salto, no
entanto. será preciso despir-se. de vez. de velho dogmas e
preconceitos que só atrapalham. •
veja I 27 DE OUTUBRO. 2010 I 25
Vão estudar vocês todos! FORA CAHIS! FORA COMANDO DE GREVE! FORA BADERNEIROS! TEM QUE IR TODO MUNDO PRESO MESMO PRA DEIXAR DE SER IDIOTA!
ResponderExcluir